sábado, 22 de agosto de 2009

O OUTRO



Breve reflexão sobre a importância do outro para o eu ...


O pior da existência humana, no ponto de vista do individualismo, é que para existirmos dependemos do outro. Se observarmos, para que um “eu” possa ser alguém, é preciso que aos olhos do outro ele seja reconhecido e este reconhecimento esteja pulgente.

Bem, fácil constarar: se nos olhamos no espelho, jamais veremos nosso próprio rosto, nossos próprios olhos. Fato! O que vemos é um reflexo, correto? E o que te prova que o que você vê é condizente com a realidade total de sua aparência e sua existência?Então, convenhamos que aos olhos da existência singular um individuo não pode sequer conhecer sua própria aparência física real, em virtude destas possiveis distorções que sua propria percepção através do meio fisíco, representado pelo espelho e, com isso, dependa do outro para tal.

O mesmo acontece para a vida social. Em uma sociedade temos niveis de reconhecimento que distinguem as categorias existênciais dos seres humanos. Há aqueles que são conhecidos por pequeno número de pessoas e aqueles que são conhecidos de todo um grupo social. Isto provavelmente explica o desejo de uma criança ou jovem em se tornar artista ou alguém famoso: é neste período da vida que mais se busca o próprio espaço e o reconhecimento de tal existência por parte do outro, lançando sua imagem à aprovação dos demais. E continuamos a fazer isto pelo resto da vida, o tempo todo, seja na forma como nos comportamos, vestimos e na opção por itens que atribuem status pessoal a um ser – itens que também podem ser considerados como os atrativos exteriores do ser – de forma que o status se converta em coeficiente de atratividade.

Não desconsidero, claro, que tenhamos uma percepção do nosso próprio “eu”. É algo plausível que nos vejamos por nossos proprios parâmetros e nos julguemos segundo nossos conceitos. Mas, onde quero chegar é que para o ser humano, enquanto animais sociais e simbólicos que somos, temos a profunda necessidade de sentir o reconhecimento advindo do outro.

Ora, quanta pretensão da minha sutil animalidade racional, querer existir no mundo das coisas de um outro alguém. Mas que lástima ter que depender do outro, até para isso. Isto parece, de longe, um excesso de individualismo, não? Mas, o justifico. Reafirmo, como sempre tenho dito, que o ser humano possui seus filtros de atenção e interesse seletivo pelos quais escolhe o que quer, quando quer e “se quer”.

Agora pondere meu extremismo ao pensar que você pode precisar deste reconhecimento por parte de alguém específico e esta pessoa pode não sentir interesse pelo seu eu projetado e não reconhecer o seu eu real e assim, sua existência para esta pessoa praticamente não existe. Pondere também uma situação onde seu padrão de projeção pessoal almeja um determinado nível de reconhecimento por parte de outros individuos – isole um, se necessário – e este nível não é alcançado. O que resultará disto? Frustração e o sentimento de que em meio a uma multidão de pessoas, você permanece sozinho.

E porque?
Porque auto suficiência é uma expressão muito bonita, somente quando sai da boca de alguém que não precisa fazer uso dela. Ficam aqui as impressões de um não-reconhecido sobre as desilusões amorosas…

sábado, 11 de abril de 2009

Ritos de passagem ...


(foto minha mesmo)


Porque, afinal, as coisas são tão complexas aos olhos dos desprovidos...

Sim, porque a providência incumbe a facilidade.
Não é dificil estar frente ao ótimo e se contentar com seu melhor.
Mas é tão difícil olhar para si na adversidade e encontrar o que os outro indicam:"continue", "prospere", "siga" ... imperativos válidos para si próprios ou para ninguém.
Agora, pratique-os! Vamos. Faça um exercício.
Coloque-se à disposição de seu melhor, sempre.
Não se contente. Não se engane.

Parece impossivel se contentar com um desempenho ruim, ainda sabendo que ele foi seu melhor, porque se seu melhor foi ruim, então, o que seria seu ruim ... um lixo?
O que você faz é bom. Será?
Excessos de auto-confiança degeneram sua veracidade.

Não é preciso escapar ao excesso. Não me refiro à humildade porque, convenhamos, poucos são os que são humildes sem saber e esta é a verdadeira e valiosa humildade. A veracidade da pessoa é o reconhecimento de sua existência limitada e limitativa.
Isto, claro, não é para todos.
Há os que nascem maravilhosos, dotados da luz ...
Não, não estou querendo ser preconceituoso ou maniqueísta. Estou tentando ver a verdade além da ética e da moral, que nada mais são do que as cortinas racionais que esondem nossa humanidade e animalidade sob um pano de fundo dócil e sociável, preocupado como outro e inadimsivelmente humildes frente às nossas limitações.

O débil perece. Eis a verdade.
O débil de beleza, perece.
O débil de inteligência, perece.
O débil de talento, perece.
O débil de verdades, nem sempre, perece.

E, nessas observações, como seguir? Como prosperar?
A desilução é a verdade de uma existência real, onde se percebe o vazio de sentido que é o ser.
Onde se encontra a verdade da falta da verdade, enquanto ela estiver dentro de cada um e longe de todos. A verdade é algo tão variável que pode levar ao bem ou ao mal, e se for alguém desprovido dos filtros do não-perecimento, estará fadado ao pior.

Quero saber como concorrerá. Como se colocará diante daquele que é melhor que si sem faltar com a verdade, ainda que "sua verdade", ainda que não sejaa verdadeira verdade intangível. Sem faltar com sua verdade. Sem manipular a verdade do outro.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Um pronome construtivo ...

Um brinde aos verbos.

Aos dias guardados em caixas. Às coisas guardadas em caixas. Pois a vida é como uma grande caixa de memórias. Tanto a é, que ao não existir mais, colocamos o que dela resta em caixas.

Aos amanhãs perdidos por medo. Aos ontens deixados para o amanhã. Ao agora ignorado. Ao silêncio perdido por vaidade. Ao momento perdido por pressa. Ao sabor perdido pelo descaso. A alegria perdida nas razões.

Às idas e vindas da vida. Para compreender que o amor não se perde, pois não há modo de se perder aquilo que nunca se teve. É preciso amar e conquistar enquanto se é jovem, pois a juventude anda junto com a beleza e a carapaça se inutiliza quando a beleza se esvainece. É mais fácil amar o belo. Mais fácil conceder ao belo.

À juventude que é bela e também à idade que a dissolve em expressões de passagem.

Ao quarto crescente da lua e a luz do quarto minguante. Ao saber do fim; pois ele nos permite criar os momentos e inventar as memórias, para que tudo pareça ter sentido.

Em cada gole de minha essência, um novo aprendizado.Graças aos verbos, que nos permitem.

Roberto DonadelliDomingo, 4 de janeiro de 2009.